Um dia após a sua posse, o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aproveita o momento para deixar claro a sua posição com o Brasil.
A recente declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a relação comercial entre Brasil e EUA trouxe à tona uma discussão relevante: será que o Brasil depende mais dos Estados Unidos ou o contrário? Essa pergunta não só gera curiosidade como também levanta questões importantes sobre economia, investimentos e geopolítica. Vamos analisar essa situação sob diferentes ângulos para entender melhor quem realmente precisa de quem.
A Declaração de Trump: O Que Significa?
No início de 2025, exatamente 21 de janeiro, numa terça-feira, um dia após sua posse, Trump afirma categoricamente que o Brasil precisa mais dos Estados Unidos do que o inverso. Embora sua fala tenha um tom provocativo, ela reflete uma análise econômica baseada em números e relações comerciais. Mas essa visão é totalmente verdadeira?
Antes de qualquer conclusão, vamos mergulhar nos dados da balança comercial entre os dois países e explorar as nuances dessa parceria.
Balança Comercial: Quem Ganha Mais?
De acordo com dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (FORBES), a balança comercial entre Brasil e EUA em 2024 foi praticamente equilibrada:
– Exportações brasileiras para os EUA: US$ 40,3 bilhões
– Importações brasileiras dos EUA: US$ 40,5 bilhões
Ou seja, houve um saldo negativo de apenas 200 milhões de dólares para o Brasil. Em termos absolutos, parece um empate técnico. No entanto, quando olhamos para o contexto geral das transações comerciais de cada país, a história muda.
Principais Produtos Trocados
– Exportações do Brasil para os EUA: Petróleo bruto (14%), produtos semiacabados de ferro e aço (8,8%), aeronaves (6,7%) e café (4,7%).
– Importações pelo Brasil dos EUA: Motores e máquinas (15%), óleos combustíveis de petróleo (9,7%), aeronaves e peças (4,9%) e gás natural (4,1%).
Os números parecem equilibrados, mas há um detalhe importante: os EUA são o SEGUNDO maior parceiro comercial do Brasil, ficando atrás apenas da China, em questão de exportação e importação. Já o Brasil ocupa apenas a 16ª (décima sexta) posição entre os maiores exportadores para os EUA e a 27ª (vigésima sétima) entre os importadores. Agora ficou mais fácil de ver a distância real? Em um exemplo simples, se o Brasil deixar de ser um parceiro comercial dos EUA, o possível “impacto” seria MUITO menor para os americanos do que o inverso.
Investimentos Estrangeiros: Uma Dependência Clara
Se na balança comercial o Brasil ainda consegue manter um equilíbrio, no campo dos investimentos a dependência fica evidente. Para o Brasil, os Estados Unidos são o principal investidor estrangeiro com cerca de US$ 350 bilhões aplicados diretamente na no país. Além disso, existem aproximadamente 4.000 empresas americanas operando no território brasileiro, gerando empregos e movimentando a economia. Tudo isso de acordo com a declaração de Abrão Neto, da Amcham Brasil, em janeiro de 2025.
Em 2022, os EUA representavam 30% de todo o investimento estrangeiro direto no Brasil, número que já está próximo de 50% atualmente. Esse cenário demonstra que, enquanto o Brasil depende fortemente dos recursos americanos, os EUA têm alternativas globais para diversificar seus investimentos.
Importância do Brasil para Empresas Americanas
Apesar da retórica de Trump, especialistas apontam que o Brasil desempenha um papel estratégico para muitas empresas americanas. José Augusto de Castro, presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), destacou que várias matrizes americanas dependem da expertise e dos recursos fornecidos pelo Brasil. “O que o Trump falou tem uma certa razão, mas na prática não se aplica. É mais uma frase de efeito. Pode se dizer que eles precisam um pouco da gente, é uma verdade. Pergunta a uma matriz americana que exportam para o Brasil o que eles acham. Acham ótimo. No fundo, no fundo, precisam” fala José Augusto.
Leonardo Nelmi Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), reforça: “Empresários americanos que têm relações de negócios com o Brasil não repetiriam a frase do Trump. O Brasil tem um histórico de décadas de integração de cadeias produtivas e isso é muito importante para os dois lados. Ele poderia encontrar isso em outro lugar, mas pagaria mais caro e abriria mão de décadas de relacionamento. Seria um incômodo significativo”.
O Que Está Por Trás da Fala de Trump?
Trump não está preocupado apenas com o Brasil, mas sim com o BRICS – bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Durante sua campanha eleitoral, ele prometeu taxar produtos desses países em até 100%. Agora, no poder novamente, ele voltou a criticar a aliança, especialmente a possibilidade de criação de uma moeda única para transações comerciais entre os membros.
Essa postura reflete o medo de uma possível “desdolarização” e a ascensão da China como uma potência global capaz de ocupar espaços tradicionalmente dominados pelos EUA. Para Trump, o Brasil pode ser visto como um elo fraco dentro do BRICS, uma oportunidade para pressionar economicamente e tentar desestabilizar a aliança. Agora é mais que necessário que o governo brasileiro entenda “o que realmente quer?” E na hora de escolher, ao menos escolha ficar ao lado da população brasileira. A ministra interina das relações exteriores Maria Laura da Rocha também fez um comentário: “O presidente Trump pode falar o que ele quiser. Ele é o presidente eleito dos Estados Unidos. Nós vamos analisar cada passo das decisões que forem tomadas pelo novo governo. Mas acredito que, como somos um povo que tem fé na vida, que tudo vai dar certo sempre.Vamos procurar trabalhar as nossas convergências, que são muitas.”
Impactos Práticos para o Consumidor Brasileiro
Se Trump decidir aumentar tarifas de importação para produtos brasileiros, isso pode ter consequências diretas no bolso do consumidor. Alguns exemplos incluem:
– Preço da gasolina: Como o petróleo bruto é um dos principais produtos exportados pelo Brasil aos EUA, tarifas mais altas podem encarecer derivados de petróleo.
– Inflação: Tarifas elevadas tendem a aumentar os preços de produtos importados, contribuindo para uma alta inflacionária tanto no Brasil quanto nos EUA.
– Recessão: Medidas protecionistas podem prejudicar a economia global, afetando negativamente ambos os países.
Por outro lado, se os EUA adotarem políticas mais restritivas, o Brasil pode buscar alternativas, como fortalecer suas relações comerciais com a China. Isso poderia abrir novas oportunidades para empresas brasileiras e até mesmo para pequenos empreendedores que atuam com produtos chineses, como plataformas de e-commerce.
Muita Calma Nessa Hora!
Embora os números mostrem que o Brasil depende mais dos EUA em termos de investimentos e mercado consumidor, a relação entre os dois países não é unilateral. Empresas americanas também se beneficiam do trabalho e da expertise brasileira, além de décadas de parcerias comerciais.
Portanto, antes de entrar em pânico com as declarações de Trump, é importante lembrar que as relações internacionais são complexas e envolvem múltiplos interesses. Para o Brasil, o momento exige diplomacia e estratégia para equilibrar as negociações e garantir benefícios para a população.